As avaliações externas aplicadas em larga escala têm se consolidado como instrumentos essenciais para a aferição da qualidade educacional em diversos países, incluindo o Brasil. Elas fornecem dados valiosos sobre o desempenho dos alunos e a eficácia das práticas pedagógicas. No entanto, a relação entre essas avaliações e o currículo escolar, especialmente sob uma perspectiva crítica, é complexa e multifacetada.
As avaliações externas, como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e a Prova Brasil, são aplicadas de maneira padronizada e sistemática, oferecendo uma visão panorâmica e objetiva do desempenho educacional. Elas medem o conhecimento dos alunos em áreas específicas, como linguagens, matemática e ciências, fornecendo uma base comparativa que pode ser utilizada para identificar tendências e disparidades educacionais.
O currículo escolar, por sua vez, é um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que se espera que os alunos desenvolvam ao longo de sua trajetória educacional. Sob uma perspectiva crítica, o currículo não é apenas uma lista de conteúdos a serem ensinados, mas um instrumento que reflete e reproduz valores culturais, sociais e políticos. Ele é um documento vivo, influenciado por diversos interesses e em constante transformação.
Michael Apple, um dos principais teóricos da educação crítica, argumenta que o currículo é uma construção social que pode tanto perpetuar desigualdades quanto ser um veículo para a mudança social. Segundo Apple, o currículo é moldado por relações de poder e interesses econômicos, políticos e culturais. Portanto, entender o currículo em sua complexidade é crucial para promover uma educação mais equitativa e inclusiva.
Nesse cenário, é evidente que nenhum tipo de avaliação padronizada é realmente capaz de verificar a eficiência de um currículo escolar em sua totalidade. Na verdade, elas nem ao menos são elaboradas com esse intuito, afinal, seus documentos norteadores (conhecidos como Matrizes de Referências) evidenciam a captura de recortes específicos e muito bem definidos do currículo escolar, relacionados a habilidades e conhecimentos passíveis de serem verificados de maneira eficaz através dos instrumentos de coleta de dados escolhidos.
Esse foco pode, por vezes, levar a uma visão estreita do que é importante no processo educativo, privilegiando conteúdos que são mais facilmente mensuráveis em detrimento de outros igualmente importantes, mas de difícil avaliação padronizada, como habilidades socioemocionais e competências críticas, criando, assim, uma “educação voltada para testes”.
Mesmo com essas limitações, é essencial destacar que as avaliações externas têm o potencial de identificar lacunas na aprendizagem e orientar políticas educacionais. A análise dos resultados das avaliações externas pode informar revisões de certos aspectos dos currículos, o desenvolvimento de material didático e a formação continuada de professores. Além disso, elas destacam disparidades no desempenho entre diferentes grupos de alunos, possibilitando intervenções direcionadas para corrigir desigualdades educacionais. Os dados gerados contribuem com insights para o desenvolvimento de práticas pedagógicas.
Desse modo, é importante que gestores educacionais, docentes e demais membros da comunidade escolar tenham clareza sobre os objetivos e potencialidades das avaliações externas, atribuindo-lhes o papel que realmente têm, ao mesmo tempo em que compreendem o currículo sob uma perspectiva crítica e holística – e que considerem, então, esses dois recursos como ferramentas para a promoção de uma educação de qualidade para todos os alunos.
Em conclusão, as avaliações externas e o currículo escolar são componentes interdependentes de um sistema educacional eficaz. A complementaridade entre eles é essencial para assegurar que os esforços de ensino e aprendizagem estejam direcionados para os mesmos objetivos.
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