Em toda avaliação, sempre existe a chance de o estudante não saber a resposta e optar por chutar. Esse comportamento, comum em provas de múltipla escolha, pode gerar distorções nos resultados quando o modelo de correção considera apenas o número de acertos. É justamente aí que a Teoria de Resposta ao Item (TRI) se mostra mais eficaz.
O que acontece no modelo tradicional?
Na Teoria Clássica dos Testes (TCT), todo acerto tem o mesmo peso. Isso significa que um estudante que acertou várias questões chutando pode ter a mesma nota que outro que realmente dominava o conteúdo — mesmo que os padrões de resposta deles sejam completamente diferentes.
O parâmetro do “chute” na TRI
Na TRI, não basta considerar apenas quantos itens foram acertados. O modelo avalia também a coerência das respostas em relação à habilidade do estudante. Para isso, existe um dos três parâmetros do modelo: o parâmetro de acerto ao acaso (c).
Esse parâmetro representa a probabilidade mínima de acerto que qualquer estudante tem mesmo sem dominar o conteúdo. Em uma questão com 4 alternativas, por exemplo, esse valor tende a ficar próximo de 0,25 (25%).
Mas o c não atua sozinho. Conforme a habilidade do estudante aumenta e se aproxima ou supera a dificuldade do item, a probabilidade de acerto cresce de forma significativa — podendo chegar perto de 100%. Já para estudantes de baixa proficiência, essa probabilidade se mantém próxima ao valor de chute.
Ou seja:
- Estudantes coerentes, que acertam fáceis e depois conseguem também acertar itens mais difíceis, têm suas notas ajustadas para cima, pois o modelo reconhece que a probabilidade deles acertarem não se deve ao acaso.
- Estudantes incoerentes, que erram fáceis mas acertam difíceis, acabam tendo esses acertos com peso reduzido, já que a probabilidade de eles acertarem esses itens está próxima ao “chute”.
Assim, o parâmetro c garante o ponto de partida (o “mínimo” de chance de acerto), mas é a interação dele com a dificuldade do item (parâmetro b) e com a habilidade do estudante que permite à TRI identificar se os acertos refletem conhecimento real ou apenas sorte.
O que acontece com os itens “chutados”?
Quando um estudante acerta questões difíceis, mas erra várias fáceis, a TRI interpreta esse padrão como incoerente — e “desconfia” de que os acertos não refletem conhecimento real.
Assim, enquanto os acertos coerentes elevam a proficiência de forma consistente, os acertos incoerentes têm peso reduzido na nota final. Dessa forma, a avaliação se torna mais justa e próxima da habilidade verdadeira do estudante.
Vantagens para a gestão educacional
Ao lidar com o chute de forma estatística, a TRI garante:
- Maior justiça na avaliação: estudantes que chutaram não são beneficiados em relação àqueles que realmente dominaram os conteúdos.
- Notas mais consistentes: os resultados refletem melhor a habilidade real, reduzindo distorções.
- Segurança nos diagnósticos: gestores e professores podem confiar mais nos dados para planejar intervenções pedagógicas.
Em que situações isso é essencial?
O controle do chute é fundamental em avaliações de larga escala, como o Saeb e o Enem, em que milhares de estudantes enfrentam provas longas e a probabilidade de chutar é alta.
Por isso, simulados baseados na TRI oferecem diagnósticos muito mais fidedignos e apoiam gestores e professores na tomada de decisão pedagógica.